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segunda-feira, 7 de março de 2005

UM AMOR CATALÃO
Folhetim à moda clássica
DÉCIMO PRIMEIRO EPISÓDIO
(Ver o caminho e, por vezes, não o reconhecer)

Passou esse minúsculo décimo de segundo e eu ainda a pensar que já não tinha quaisquer expectativas ou esperanças para a minha vida. E que seria absoluta miragem pensar noutros voos ou tentações.
Olhei em frente e a vida pareceu-me enredada numa névoa estranha.
Cheguei a pensar que seria demasiado celestial partir de coche dourado nos braços da desejada Albe e serenamente sobrevoar os Apeninos, as montanhas sagradas de Kufa e os quase inacessíveis altos de Afrodite.
Havia uma inércia que me descia pelos braços, uma descrença, uma desistência, um arrepio a sondar-me o olhar quase embaciado, um estorvo tardio a prolongar-me a inutilidade do sorriso.

E Albe, completamente alheia a isso tudo, a redesenhar a sinceridade, a adiar a certeza e, afinal, a confessar-se de livro aberto:

- É verdade, todos nós devíamos conhecer as nossas vocações, antes dos estudos. Mas a vida é assim mesmo, é preciso começar por algum lado e aquilo que nos é oferecido está de tal maneira já preparado... e é tão estanque que poucas são as soluções e muitos os problemas que nos esperam, não é assim ? - E Albe, qual doce Dulcineia, ali a falar na minha frente e eu já mal a ouvia, enquanto a ligeira mácula de cansaço desaparecia, a pouco e pouco, muito devagar.

Ao fundo da sala dos pequenos almoços, os pais de Albe fizeram, entretanto, sinal de alvorada.
Albe respondeu ao chamamento com dois dedos no ar.

E eu vi ali o sinal de uma espera que era única.

Exclusiva.


(No próximo episódio, Edmundo irá perceber finalmente que uma mudança está em curso. É algo que vem de fora e que o cerca de forma inapelável. Um encontro decisivo aparecerá subitamente no horizonte e nenhuma desistência momentânea poderá já impedir o inevitável. Assim os deuses se proponham ajudar um destino aparentemente tão sibilino)

Continua
*
(publicação simultânea da versão matricial em Inglês no blogue Minion)