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quinta-feira, 10 de março de 2005

UM AMOR CATALÃO
Folhetim à moda clássica
DÉCIMO TERCEIRO EPISÓDIO
(O início de uma confissão)

Mas por que me tinha eu posto, em plena suite do Penta, a falar de paixões com o António ? - Não faço a mais pequena ideia. Mas, a certa altura, o tipo mudou de expressão, fez aquela cara dos grandes conclaves e pactos solenes, assoprou uma nuvem de fumarada em forma de zepelim, sorriu e confessou que eu lhe tinha dado, na vida, o que ninguém lhe havia dado. Ou viria a dar. A exclusividade de um segredo.

Era verdade.

Quando regressei àquele Portugal ainda a cheirar a fadâmedes, para rimar com a nossa Moçâmedes, tive a necessidade de contar a minha história fosse a quem fosse. E dei comigo a concluir que, do Minho a Timor, ao longo da imensa e ditosa pátria, apenas um amigo, para mais de infância, podia ser o receptáculo para tal desabafo. Sem grandes demoras, num fim-de-semana ainda de Agosto desse ano de 1968, subi até ao Ribatejo e contei tudo ao António Romeu, pormenor a pormenor, como se eu próprio tivesse saído na rifa de um argumento de estio do mestre Truffaut.

À época, lembro-me com se fosse hoje, ele ficou mais espantado e embaraçado do que eu agora estava, ali, em pleno Penta, revendo na cara do Romeu aquilo que eu não imaginava sequer que ele pudesse ser: um bon vivant que se desempregara e que havia deixado para trás a mulher, os filhos, o clube de futebol, a paróquia, os amigos de café, o barbeiro e tudo. Mas como ele nunca mais começava, de facto, a contar a história, eu abri a boca e quase me vi a gritar:

- Vamos lá, desembucha ! - António tornou então a sentar-se, olhou para o relógio, serviu-nos mais whisky e contou quase tudo em três tempos.

(No próximo episódio, Edmundo toma finalmente conhecimento da drástica decisão de António Romeu)

Continua
*
(publicação da versão Inglesa no blogue Minion)