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sábado, 5 de fevereiro de 2005

Self-fulfilling prophecy

Não há nada como a entrega total à casualidade do acaso. Bate sempre certo. É a forma ideal de transformar uma asserção em facto. Muitas vezes, basta a fé para que chova, noutras é suficiente gritar o nome da nossa equipa para que ela meta golo. Tudo uma questão de convidar a realidade a cumprir o apelo enunciado. De resto, o hábito faz o monge. Ora leiamos o que escreveu J. Carlos de Assis:

"O presidente Lula espera que, tendo sido da Europa o século XIX, e dos Estados Unidos o século XX, o século XXI seja o século do Brasil. Deu-me a impressão de que ele estava lendo o discurso. Se é assim, é mais grave. Trata-se de um delírio coletivo. O presidente acha que sua presença no governo é um fator decisivo, por si mesmo, para melhorar as perspectivas brasileiras, independentemente do que ele faça ou não faça no poder. Dito de outra forma, o Brasil vai melhorar porque tem Lula na Presidência, e não exatamente pelo que Lula vier a fazer nela."

Há quem diga - estou a lembrar-me de F.Kermode - que a nossa relação com a instabilidade do tempo contemporâneo tem três traduções possíveis: esta, o famoso "self-fulfilling prophecy", a também atractiva metáfora da "crise" e ainda a mais clássica, mas sempre actuante "teoria dos ciclos" (de decadências e retomas sucessivas).
Qual preferem?