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sábado, 15 de janeiro de 2005

Saudade/ Heimwee


Universidade de Utreque (Holanda)

O comboio, enfim, não mais do que uma luz intensa e branca entre a fúria das águas e a redenção mal disfarçada que vagueia nas paredes cor de salmão. Um ronronar de vozes muito baixas, o arenque com cebola crua exposto em barraquinhas ao vento e, é verdade (!), há ainda o fio de ouro a uivar sob mantos de renda clara, muito muito próximo de duas velhotas que não param de olhar para o realejo. O comboio pára, atravesso o Hoog Catariijn, corro entre ruas coloridas e calmas, entro no edifício - cheira a café aguado - e já sei onde estou. Utreque, cidade de tratados, de ofuscações e de memórias meteóricas. Foi lá que me doutorei há já tantos anos, foi lá que comprei uma televisão minúscula e foi lá, também, que comi tantas e tantas vezes umas sanduíches com pimentos amarelados que os italianos vendiam junto ao canal.