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quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Balanço - 2

Há quarenta anos, os programas de TV que faziam o balanço do ano apareciam carregados de fascínio. Arrastavam o imponderável caudal das imagens a preto e branco, durante uma hora, e desse modo passavam em revista o que se sentia como distante, inocente, fotogénico e único no sentido da pouca compulsão criada.
Hoje, esses mesmos programas aparecem carregados de uma redundância enjoativa. Mobilizam o que já havia sido desenterrado reiteradamente, cortando ou alargando partes do fluxo global de imagens durante uma hora, como se quisessem anestesiar a nossa memória através de uma banalização galopante e desinteressante.
Acabei de comprovar este verdadeiro contraste, ao esforçar-me por seguir, do princípio ao fim, o programa da RTP que acabou há pouco.
Ou será isto tudo uma desfocagem com origem nos acenos da infância?
Vá-se lá saber.