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sábado, 6 de novembro de 2004

Radio days

Abri a TSF mesmo a horas de já não ouvir o debate sobre a putativa universidade de Viseu. Livrei-me de boa. E lembro, já agora, o excerto de uma crónica aqui publicada há uns dias:

Talvez por isso mesmo, um certo novo-riquismo de raiz ruralizante passou a desenvolver, nos últimos anos, um conceito de cidade-fachada que, pretensa e ilusoriamente, garantiria aos locais e aos visitantes uma auto-imagem reconfortante de vida urbana. Ou seja, indo a exemplos concretos, no tempo de Salazar bastava ostentar, numa cidadezinha, o Liceu, o Palácio da Justiça, os Correios e o edifício da Assistência Nacional aos Tuberculosos (Braga tinha ainda um estádio e Coimbra o Portugal dos Pequeninos). Havia menos exigência. Mas hoje, a nova cultura de cidade-fachada impõe, pelo menos, um ou dois chamados hipermercados, umas circulares com quatro pistas, um pomposo Parque Urbano, umas piscinas novas, um estádio municipal e sobretudo uma casa muito grande, no centro das cidade, se possível, onde apareça escrita a palavra “Universidade” (independentemente do que se passe lá dentro: boxe, danças de salão, debates dobre didáctica dos média, criação de capas e batinas, lançamentos do dardo ou prática de fitness). É assim, hoje em dia, os descendentes da ruralidade mais atávica querem ter uma universidade em cada rua. Fica bem e deverá dar alguma auto-confiança, presumo eu.

Chega de provocação. E de verdade.