O Israel de Luís Nazaré (actualizado)
Luís Nazaré (que, por diversíssimas razões, respeito) escreve no Causa Nossa:
“Estou particularmente curioso em saber se os votos da comunidade judaica se terão concentrado, como era hábito, no candidato democrata. Algo me diz que os tempos mudaram”.
Não gosto nada destas suspeições premeditadamente infundadas. Parece que acenam a “algo” que pretende suscitar, no mínimo, um sorriso obsceno. É uma atitude que resvala, directa ou indirectamente, para o limiar do rumor ou do diz-ze diz-se onde o único comprazimento em jogo parece ser, queira-se ou não, um juízo pejorativo sobre quem afinal se visa. E tudo isto sem que mudar, ou não, a tendência de voto possa ser entrevisto como um crime, ou como um elementar atentado à liberdade. A cada um a sua escolha.
Ainda acerca das eleições americanas, de registar o delírio puro, os dons de resistência a todo o terreno e, por fim, o pouco redimido Barnabé que está muito contente com o singrar da esquerda liberal nos EUA, mas muito zangado com o individualismo e com o egotismo pouco racional e muito pouco aconselhável de Nader. Lá se foi mais uma integridade redutora, pois então!
Felizes, feérica e expressivamente felizes há poucos, diga-se a verdade (a tirada mais elegante e bem sucedida ainda é esta: “acho que o resultado de hoje tem uma leve aura de justiça poética”). Mas o tom, o timbre, a convicção sempre se sentem aqui e ali. Como se vê, há voragens para todos os gostos, embora o grande subtexto desta eleição esteja ainda a ser traduzido pelo silêncio, pela contenção e mesmo pela apreensão. Até porque Kerry se havia tornado, nos últimos dias e meses, no petit bon sauvage de muitos que genuína e coerentemente deveriam ter sempre desejado o voto de Bush. Não era esse o meu caso, evidentemente.