Inclinações diabolizadas
No Congresso do PCP houve indignação quando alguém propôs que, para além do comité central, também os militantes deveriam poder livremente propor listas alternativas. A argumentação quase irada dos indignados e sequiosamente revoltados limitou-se a uma palavra: fraccionismo.
Fraccionismo entendido como um demónio indiscutível, cujo conteúdo e significado seria no mínimo indiscutível.
Ouvi na TSF a repetição dessa incompreensível e ansiosa intolerância.
É claro que não me choco, pois sei o que a casa gasta. Mas a coisa lembrou-me uma outra passada em 1588 (no fundo, é essa, cada vez mais, a actualidade do partido comunista português).
Nessa data, surgiu uma obra fundamental que se propôs separar as águas entre, por um lado, as profecias legalmente válidas e, por outro lado, as que a ortodoxia deveria proibir. A obra foi escrita por Horozco y Covarrubias e teve como título, o Tratado de la verdadera y falsa prophecia.
O seu prefaciador, o franciscano Fray Juan de Colmenares, referiu-se do seguinte modo às intenções da edição: "(...) desengano das invenções e enredos do demónio nas falsas revelações que em diversas partes ha sembrado estos dias...".
Concordâncias quase prefeitas.