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terça-feira, 19 de outubro de 2004

Significativo

Disse hoje o ministro Rui Gomes da Silva, na sua audição na Alta Autoridade para a Comunicação Social:

“O que o Expresso trazia ao sábado era, no dia seguinte, glosado no Público, e Marcelo Rebelo de Sousa domingo à noite desenvolvia o tema.”

As teorias das cabala remetem sempre para uma obscuridade inexplicável. São, afinal, parecidas ao agir das denúncias inquisitoriais e às práticas do anonimato. O que une este tipo de posturas é a suposição de uma trama inexplicável que gera perseguições (cabala), que persegue (denúncias, rumores, boatos, etc.) ou que se constitui, ela mesma, como fonte (anonimato). Estas posturas são próprias de uma mentalidade que não apreendeu ainda o significado pragmático e diário de uma sociedade aberta. O caso é mais grave quando, quem as enuncia e pratica nos governa a todos (ou se prepara para o fazer). Num tal caso, a cabala adquire qualidades realmente perigosas, já que coloca o estado, a relação entre governados e governantes e as próprias mediações sociais (média, entre outras) como teia imediata dessa neurose de suposições obscuras. O ministro Gomes da Silva está a tornar-se, nos últimos tempos, num ser fantasmático que exibe um profundo mal-estar pela sua normal exposição pública. Quando um poder não suporta a crítica e, por essa razão, transforma a sua conduta em desconfiança, em urdidura obscura, em cabala e até em desejo de sufoco da expressão incómoda, então muito mal vai a volta. Numa democracia com mais apego pela civilidade e pelo espaço público, admito que este ministro não resistisse muito mais tempo no governo.