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segunda-feira, 6 de setembro de 2004

Músicas do fogo



O Site Meloteca.com incluiu o meu livro Músicas da Consciência (2001) entre as demais animações da sua mediateca. O curioso é que esse meu livro nada tem a ver com música, não sendo o seu autor, moi même (infelizmente, quem sabe?), um cantor, um compositor, um DJ, ou um ensaísta concentrado no intra-muros da urbe estritamente musical. A música surge no livro em causa como uma espécie de metáfora do cruzamento entre perspectivas da obra neurobiológica de António Damásio e alguma tradição daquilo que, no final do século XIX, se veio a designar por semiótica (e não pela posterior e datada semiologia franco-estruturalóide). Aliás, no prefácio ao livro, António Damásio precisava:

E qual é, afinal, o objectivo desejado ? De modo simples, trata-se de um juízo acerca da compreensão dos sentidos do ser de cada um em termos mentais, enquanto seres vivos que somos a habitar a casa do universo, sem esquecer o juízo correspondente acerca da fábrica biológica que não apenas estabelece um correlato com as ocorrências da mente, mas que acabará, um dia, quando a fusão entre as descrições de ordem mental e biológica estiverem devidamente realizadas, por ser revelada como constituindo, ela mesma, o próprio conjunto das ocorrências da mente.

Como se vê, a música dizia respeito aos sentidos do ser, ou ao modo como o filme da mente - amiúde pouco explícito ou visível na consciência - está sempre pronto a significar, se se quiser, a própria musicalidade múltipla de que é feita a vida.
Há confusões extraordinárias. É com elas que, aqui e ali, ainda nasce o fogo.