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sábado, 14 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata - 24


The Road West, Dorothea Lange, 1938

Fora da trajectória há outra vida. Sempre outra. E ao fundo, no local onde todos os destinos se encontrassem, ainda que dispersos e desconhecidos, apareceria um livro em branco sem sinais, sem desígnios, sem inscrições, sem exortações e sem juízos de qualquer espécie. E a viagem, ou antes, as viagens retomar-se-iam como se a estrada fosse só uma e o destino a miragem exacta do ponto de partida. Apesar dessa ilusão de que se embebe o anónimo caminhante, o ângulo da jornada seria raso e o vão recortado pela paisagem teria a medida precursora da vista. Depois de tanta trajectória a percorrer, ver-se-iam ainda órbitas e os passos sem poder acompanhar as linhas tracejadas aparentemente sem fim. Só então, por esconjuro, o viajante retiraria a venda e veria o que nunca se escondeu fora da sua própria trajectória: uma outra vida.