Sentir a falta?
Lembro-me do tempo em que sentíamos a falta da televisão. Bastava uma ida à praia, quando eu ainda era um jovem a medir forças com o mundo. Dava-se então pela falta de um complemento imaginativo, de uma companhia informe, ou de um certo sentido de completude. Não era trágico e tinha o sabor da melancolia que se misturava com o revigorar de um bem estar ainda não completamente perdido.
Hoje, vivemos no tempo em que não se sente a falta. Isto é, se acaso nos escapam os computadores, o telemóvel e o fluxo das imagens posto à nossa disposição (não chamemos já a isso televisão ou telefonia), o que se passa é que ficamos desvividos.
Já não se trata de sentirmos a falta de, ou de tão-só navegarmos numa melancolia indecifrável. Agora trata-se de uma amputação, de uma redução do ser, ou de um desaparecer radicalmente carregado de indiferença.