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segunda-feira, 10 de maio de 2004

Saudade vs Falta de

O comentário da Charlotte sobre a saudade e a ideia de "falta de" reconduziu-me às reflexões e aos mundos que me acompanharam durante a escrita do meu romance As Saudades do Mundo (1999). Na saudade há um apelo - ou um espaço - que oscila entre a quase rendição e a miragem de redenção, o que possibilita um deambular e uma errância interiores que nos concedem uma certa imagem de controlo do tempo. O passado parece redimido, o futuro aparece com suavidade e o presente torna-se no campo onde frutificam os delírios que advêm do apelo da própria saudade. Já a ideia de "falta de", tal como eu a pensei no meu post da última Terça-feira, é insolvente e essencialmente inapelável. É por isso que eu utilizei o verbo (inventado) "desviver" para a caracterizar. Resumindo: a "falta de" implica uma redução da ficcionalidade dos afectos e não a hipérbole quase delirante que anda sempre de mão dada com a saudade.