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quarta-feira, 19 de maio de 2004

Embuste - 6

No quadro da discussão que tem vindo a crescer, publico agora, Via Ma-Schamba, um extracto do artigo “Que agricultura lusófona é esta?” da autoria de Tomás Vieira Mário (publicado no jornal Notícias, Maputo, a 9 Março 2004):

"(…) nas edições de segunda-feira de alguns jornais nacionais vem um texto publicitário anunciando uma reunião que se chama “II Jornadas de Agricultura...Lusófona” (!). De novo, a inevitável pergunta: de que agricultura estarão eles a falar? Que agricultura será essa, denominada “lusófona”? Haverá alguém com paciência suficiente para me explicar o significado de uma tal expressão, mesmo admitindo que seja utilizado em sentido figurado? Que figura pretenderia ela representar?
Pela lógica das coisas, sou induzido a pensar que eles pretendem, nestas jornadas, falar das possibilidades de investimento luso no sector agrícola em Moçambique, já que diz o subtítulo “Moçambique – terra de oportunidades”. Mas e então porque não dizer logo “Jornadas sobre o investimento português no sector agrícola de Moçambique”?
É que, de contrário, a agricultura moçambicana longe ser “lusófona”, seria “bantófona” (...) já que ela é dominada por camponeses moçambicanos locais, na sua quase totalidade, analfabetos da Língua Portuguesa!
A lusofonia – vozes mais autorizadas já o disseram inúmeras vezes, e com maior veemência – corresponde a um quadro socio-linguístico dos portugueses (lusos), do mesmo modo que nós, moçambicanos, pertencemos a um quadro socio-linguístico bantu. Por “camonianos” que pudéssemos ser!
(…) parece simplesmente ridículo, arbitrário e destituído de qualquer sentido (político, histórico, cultural, etc) atribuir denominações do género “Agricultura Lusófona”, para encobrir formatos de estratégias empresariais portuguesas para África! Ainda seria de considerar qualquer coisa como “Agricultura Luso-Moçambicana”, etc.(...)"


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