Conde Barão
Lancho numa esplanada em frente aos antigos armazéns do Conde Barão. Ainda cheira a fumo, a queimada, a cinza desfeita. Os últimos três pisos não passam hoje da consumada memória dantesca do antigo Arsenal veneziano: ferros corroídos, paredes limadas a negro, janelas adormecidas pelo vão das labaredas. Após o limbo - essa imaginação nostálgica vestida de metáfora - o emergir impiedoso da catástrofe. Precisamos todos, afinal, de um inferno. Vejamos: não há como um terramoto para repensar uma cidade, o espaço virgem por saciar, ou a abertura ilimitada dos lugares. Talvez precisemos de ciclos bem marcados: erigir, evocar, acocorar em limbo, arder e, depois, então, imaginar e criar sem freios e sem receios. Porventura, há no recato mais íntimo e repousante da vida este vigorar dos limites, este acender dos extremos, este implacável navegar dos abismos. Adeus Conde Barão!
(escrito anteontem num guardanapo).