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terça-feira, 13 de abril de 2004

John Kekes e a educação

Sobre a resposta de MacGuffin à minha glosa pré-Pascal a um texto de Kekes devo esclarecer o seguinte:
1 - Um filósofo, tal como o ocidente secularmente o imaginou, é um actor que recoloca a realidade perante a avidez que é ser, dever ser, conhecer, interpretar e agir. Não revi tais atributos no discurso parcial de Kekes que pude interiorizar. Salvaguardo, no entanto, a minha radical ignorância sobre os eixos fundamentais da sua escrita e pensamento (fica a motivação para lê-lo), transposta, aliás, na paródia em tom de glosa bem disposta que na altura escrevi.
2- Pedi, na altura, desculpa ao meu amigo MacGuffin apenas porque senti existir um plano de identificação entre ele e Kekes. A desculpa é um dom retórico convocado pelo desejo de aproximação e partilha entre interlocutores diferentes.
3- Por fim, quanto ao óbvio na educação, devo acrescentar que o meu cepticismo de fundo (face às representações sociais de futuros possíveis), aliado ao meu optimismo pragmático (perante o labirinto da vida no dia a dia), já não apascenta uma grande vontade de interferir nos resultados de uma massificação tardia e com razoáveis perdas de sentido - na minha perspectiva geracional - que transformaram a educação numa espécie de oficina corporativa dos tempos livres, do mau gosto, da ignorância e do exercício de palavras ordens não exigentes. Olho para esse espectáculo com estoicismo, mas sinto-me alheio a ele. Tenho esse direito que é mais uma opção crítica no espaço público do que uma desistência (tento, nos mestrados em que lecciono, encontrar uma posição de nicho utópico e resistente. É talvez o que me restará, como vestígio, das voragens militantes). E nessa medida o que Kekes afirma parece-me justamente inocente, obviamente retrospectivado e generosamente redundante. Como se eu apontasse para um muro para concluir que há um muro a ser apontado. Como se eu afirmasse que devia estar de pé para caminhar numa certa direcção de modo decidido. Como se eu me risse para inferir que há coisas na vida que me permitem ter acessos de riso.