Pathos de Inverno
Open Democracy
Um brilho de veludo, a luz da bruma mais esvaída e a humidade da vertigem a invadirem a verdadeira noite de Janeiro. É o frio a adivinhar o sabor a gelo e o antigo espectro das cavernas onde se desenharam traços de cor avermelhada de sangue. No inverno, o corpo ensaia a grande dança da gestação e a imensa espera dos citrinos torna-se agora na delonga do génio noctívago. E sem nada que o previsse, eis que a natureza fala através de sinais pouco claros, porque apenas amadurecidos na densidade mais crepuscular. São traços escuros sobre fundo escuro, são meteoritos brilhantes sobre o brilho de águas paradas, são vozes de silêncio sobre o mutismo mais longilíneo da terra. As marcas do inverno não têm nome. Apenas uma respiração profunda, um desejo avassalador e todo, todo o luzir da manhã desejada.