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segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

Majestade

As laranjeiras suspensas pela névoa. Patos de asas muito abertas a correrem na penumbra entreaberta em pleno dia. Uma voz de mulher a intrometer-se no silêncio da fogueira que dá ao muro um tom vulcânico. Os candeeiros a acenderem-se arrastando o sinal prodigioso de uma fé irremissível, mas perdida. Volto a olhar para a janela e imagino o que veria Vermeer ao ver o que eu vejo, o que ouviria Bach ao ouvir o que eu ouço. Não faço ideia. Só sei que há um gato a atravessar o muro, o imenso muro rodeado de fogo; ei-lo completamente alheio a tudo, como se viesse da Antártida e fosse agora sentar-se no vértice da maior pirâmide de Gizé.