Espessura
De novo a serenidade da noite após as chuvas de viagem que me trouxeram de Lisboa. Deixo de lado polémicas e agravos, névoas e luzes, ribaltas e cometas ainda por aparecer. Agora resta-me olhar pela janela e abençoar o insaciado momento que é cada véspera. Cada cidade de ouro a ser visitada. Cada rosto a ser auscultado. Cada planeta a ser tocado. Ver antes de ser. Urgir antes de voltar a partir. E é já amanhã, outra vez, dia em que termina o meu primeiro semestre de aulas e se inicia um período de escrita. Primeiro compor escritas romanescas e depois a tentação de um ensaio. No vidro da janela, a timidez que abrevia a chuva ainda espessa da noite. Talvez um arco-íris subterrâneo. Ou apenas os jarros selvagens que se unem secretamente sob a esperança da próxima lua nova.