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sábado, 22 de novembro de 2003

Lucidez contra o hiperterrorismo



O novo terrorismo tem características muito claras: processa-se em rede, ou seja, não é comandado por uma central única e centralizada (trata-se de um polvo com várias extensões e qualidades); tem como alvo o ocidente como uma excrescência da humanidade; defende princípios religiosos ligados à revelação do livro e associados a uma moralidade pré-moderna; não olha a meios para atingir fins (recorre ao suicídio de forma já banalizada e projecta-se em possíveis e ainda inimagináveis plataformas hiperterroristas) e, por fim, procura pretextos políticos para legitimar a sua acção ignóbil (nomeadamente ancorando o seu discurso no epicentro israelo-palestiniano e, mais recentemente, visando a questão iraquiana - casos recentes de Istambul).
Já lá vai o tempo em que o terrorismo era um agir baseado em atentados, assassínios ostensivos (JFK morreu faz hoje quarenta anos) ou em explosões mais ou menos cirúrgicas. O diagnóstico do terrorismo assente numa perspectiva territorial ou até nacional, filtrado por causas visíveis (i.e., plausíveis, compreensíveis) e delimitadas, é algo do passado. Hoje em dia, a globalização terrorista anti-democrática vai muito para além das reivindicações de mudança e exige basicamente o aniquilamento de uma invenção que é, ela mesma, o próprio modus vivendi a que o ocidente acedeu do século XVIII para cá. A liberdade, a justiça baseada em pressupostos humanos, a legitimidade democrática, o mercado e um espaço público não submetido a uma interpretação teológica são as traves mestras desse modo de estar no mundo.
Ao contrário de certa esquerda hilariante (BE e certas franjas mesmo do PS - já nem incluo no painel o PCP), penso que o ocidente se deve preparar para uma defesa sem tréguas. A liberdade não tem preço. E a democracia também não.
Culpabilizar sistematicamente o ocidente de tudo é contribuir para a sua inoperância e inércia na nova guerra mundial em que estamos já a viver (e que muitos preferem comodamente não entender como tal).