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quinta-feira, 6 de novembro de 2003

Desígnios semióticos

Dizia ontem o Nuno Nabais, na bela sua livraria Eterno Retorno, que eu estou a dar continuidade aos velhos paradigmas semióticos (referia-se mais aos pré-modernos do que aos pós-iluministas) a partir dos fragmentos em que a semiótica havia deixado de fazer sentido no crepúsculo que sucedeu à lenta digestão deleuzeana e desconstruccionista (como eu, aliás, referira na Músicas da Consciência). De facto, sendo todos nós herdeiros dos variados pragmatic turns (deixámos de crer na transparência das linguagens e passámos a viver nas ficcionalidades globais que elas criam), que nos resta senão repor em andamento um novo tipo de saber que indague os percursos do sentido e do significado neste magma contemporâneo que se amplificou, descentrou e polarizou de modo múltiplo e aberto? A nova semiótica que eu advogo, no subtexto do meu recente volume didáctico, corresponde precisamente a uma atitude que pressupõe a ultrapassagem da ciência das ciências perseguida por Peirce, Husserl e em menor escala por Hjelmslev (ou até Saussure), para dar lugar a um saber que possa acompanhar as novas lógicas de significação que as culturas não territoriais (os "being-in-common", na expressão do semiótico australiano Alec McHoul) estão, hoje em dia, a formatar.