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segunda-feira, 17 de novembro de 2003

Ainda A Falha



Diz-se no A Montanha Mágica:

Ainda a respeito de literatura e cinema, podíamos na altura ter dado o exemplo da obra A Falha de Luís Carmelo , “adaptada” ao cinema por João Mário Grilo e pedir ao autor uma opinião sobre o filme. Estámos cientes que pode não o querer fazer, mas se não houver motivos, era muito bem vinda. Obrigado e perdoe-nos a falha. Desde já aproveitámos para dizer que, apenas vimos o filme ainda não lemos a obra.
De resto, toda aquela pedreira de mármore, no concelho de Vila Viçosa, é uma obra de arte da natureza explorada pelo Homem. Quem por lá passear, pode sempre meter ao bolso, como recordação, umas pedrinhas de mármore, dádiva da criação.


Deixo para já aqui um texto que escrevi ainda antes de haver filme acerca do romance. Quando o escrevi, o que me perseguia era a interrupção daquela moldura com que olhamos geralmente um edifício estável e presumivelmente assente num corpo de regras fixas.
Subitamente, escapando-se ao quotidiano, um conjunto de personagens hipotecava assim a sua vida perfeitamente normal e resgatava para si o território da tremenda falha onde tudo passava a ser, de um momento para o outro, possível. Este desafio, este despique entre deuses sem rosto, ou entre dádivas não apolíneas da criação ganha depois alento numa narrativa bastante entrecortada e com uma espécie de perverso happy end.
No filme, com um final totalmente diverso, o João viu sobretudo a história de uma geração e eu, ao ter redigido grande parte, senão o sumo, do guião, acabei por ceder um pouco a essa visão. O carácter algo híbrido do filme, ou, se se preferir, a sua demasiada inércia (em certos momentos) pode ter a sua raiz nesse ponto. Seja como for, um livro é um acontecimento e um filme é um outro acontecimento completamente diferente. O único vaso comunicante entre ambos será ou terá sido o ponto de partida imaginário que foi meu. Mas, depois, no filme - aliás, como também no livro - todas as instâncias criativas ganharam autonomia e frutificaram a seu modo.
Uma última nota: sou ainda demasiado cúmplice com a feitura do filme para dele ter uma visão exterior e suficientemente objectiva. Na próxima Sexta-feira, dia 21 de Novembro, no Cineteatro de Vila Viçosa, eu e o realizador vamos debater isto tudo pela primeira vez antes de mais um visionamento do filme. Ficam todos convidados, a começar pela Montanha Mágica.