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quinta-feira, 2 de outubro de 2003

O enigma do sofrimento

O que faz o Ocidente ao prostar-se diante de um corpo a sofrer ? O que faz o Ocidente ao inclinar-se perante imagens seculares de sofrimento ? O que faz o Ocidente ao dissociar a tradição religiosa do pathos do sofrimento que tanto alimenta ?
Vejo o Papa quase moribundo a transformar-se no alvo das declarações de Ratzinger e a converter-se no centro das declarações emocionadas de mil e uma pessoas que o imaginam entre o terreno e um qualquer patamar mirífico que seria indissociável das marcas de quem tem que sofrer.
Porquê tanta ênfase dada ao sofrimento ?
Porquê inscrever a dor na reiterada tentação de uma redenção, ou de uma libertação ?
Lembro-me de um japonês algures em Espanha, há muito anos, impressionadíssimo com um altar barroco. Também me lembro dos camicases (esccrevamo-los em Português).
Não seria preciso lembrar os camicases quando eles estão e são, infelizmente, presentes.
Como escreveu Paulo José Miranda: "O frio fica majestoso/ com as suas vestes brancas./ Parece-se tanto com o ódio,/ este nevoeiro interior/ depois da sementeira perdida".