Fenómeno religioso
Foi O. Ducrot quem escreveu que o fenómeno religioso porventura não existiria se "a própria língua não tornasse possível a fala de alguém ser simplesmente a fala de outrém". Citei este extracto no meu livro Islão e Mundo Cristão e creio que pode suscitar uma reflexão interessante (embora potencialmente redutora) na medida em que projecta a recusa da transparência e da pura instrumentalidade da linguagem (os famosos turns que revigoraram as análises do século passado) ao campo comunicacional onde se prescreve o ici-bas terreno e um/o interlocutor divino. Duvido que este plano de discussão possa conformar-se com a simples "recusa do religioso". Por outro lado, é normal que uma tal cascata de "falas", disseminada em culturas ancestrais e milenarmente distantes umas das outras, tenha levado as religiões a enunciarem-se sempre e necessariamente "contra" algo.