segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Cerveja e literatura - 33

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Em Junho de 1991, Sebald deslocou-se a uma pequena localidade chamada Kissingen (“fui por Amesterdam, Colónia e Frankfurt…”). Tudo para compreender, no terreno, o significado das “memórias” de Luísa Lanzberg, de que o escritor alemão faz eco no final de Os Emigrantes. No texto, influenciada porventura pelo tom de desassombrada expiação do livro, a cerveja acaba por ilustrar sintomas de uma pessoa totalmente disforme que Sebald, fortuitamente, encontra no comboio:
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“Não saberia dizer se a deformação do corpo e do espírito do meu companheiro de viagem tinha a sua origem num longo internamento psiquiátrico, numa debilidade congénita ou somente no consumo de cerveja e de petiscos. Para meu grande alívio, o monstro saiu na primeira estação a seguir a Gemunden, por isso fiquei sozinho na carruagem, com excepção de uma mulher de idade, do outro lado da coxia, que ia a comer uma grande maçã gastando para tal a hora bem medida que levou a chegarmos a Kissingen.”
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(W.G. Sebald, Os Emigrantes, tradução: Telma Costa, Teorema, Lisboa, 2001/5 p. 209)