segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

Res Pública

Uma sondagem recentíssima da Universidade Católica - que vai ser hoje utilizada num programa da RTP 1 - indica claramente que 75% dos portugueses consideram a actual discussão sobre a interrupção voluntária da gravidez oportuna. Contudo, a agenda definida pelos eleitos que legitimamente nos governam aponta para a sua radical inoportunidade. Em que ficamos? Boa pergunta a pedir uma resposta que não feche a porta a nenhuma das partes. Sobretudo porque em democracia convivem sempre diversas legalidades, umas institucionais, outras não. Ou seja, numa sociedade aberta, o legal-institucional e o espaço público activo devem equivaler-se e debater-se em estado de positiva tensão. E tal é verdade para a relação entre os média e o segredo de justiça como o é para a urgente discussão - ainda que desconfortável para muitos - que a interrupção voluntária da gravidez exige. E não é a pretérita realização de um referendo não vinculativo, nem tão-pouco as compreensíveis tácticas de concertação no seio da coligação governamental que poderão ditar, de modo indefinido, um bloqueio à questão (que nos coloca, na Europa civilizada, num lugar vergonhoso).