domingo, 11 de janeiro de 2004

Moleza dominical

E não haverá no dilatado tempo de Domingo uma espécie de aflição seminal que nos expõe à tentação do tédio e, ao mesmo tempo, nos conforma com o impraticável sonho de um mundo sem fracturas? Não pairará neste tempo de Domingo uma espécie de doce angústia que nos encaminha para a ilusão utópica da felicidade e, ao mesmo tempo, nos informa do lapso e da fenda que é afinal a substância da efemeridade do mundo?
Nos Domingos, os carros arrastam-se como lagartixas indecisas, os restaurantes deixam invadir-se por bichas familiares sem finalidade, os parques são preenchidos por corpos que ostentam fatos de treino faustosos, os relatos de futebol enunciam os gladiadores e a simulação das esperanças a vir, enquanto as praças cruzam o seu extremo vazio com a nostalgia de uma idade de ouro em que a contemplação teria substituído a mais ténue das actividades.