domingo, 25 de janeiro de 2004

Comentário sobre a questão da Apagogí vs Abdução (Peirce)

Na indução procuramos caminhos num campo mais ou menos inexplorado (o exemplo arqueológico é funcional neste caso). Esses caminhos permitem-nos, depois de muitas tentativas, acasos, ilações lógicas, inferências, associações (e, outra vez, mais e mais acasos), chegar à constatação de uma regra que a própria realidade, em princípio, confirmará (o exemplo de que o muro descoberto, no tal campo arqueológico, é, em princípio, romano). Estaríamos assim a aportar numa primeira premissa silogística, a partir da qual se pode tornar possível deduzir (até que a “crença”, a “dúvida” e “o inquérito” peirceanos o possibilitem). A abdução surge, neste quadro que liga a indução à dedução, como uma espécie de trave-mestra processual, já que é ela que pressupõe intervalos no agir indutivo tendo em vista a conjectura que conduz à inflexão, ou seja, à mudança de caminho (a Charlotte bem dizia a propósito da Apagogí: “interrupção, um desvio num caminho”). No fundo, abdução coincide com o próprio leme que acaba por alterar o rumo de um olhar prospectivo que persegue, independentemente das intencionalidadesa em jogo, uma regra. Daí que o(s) “afastamento(s)” (citado na Apagogí) face a uma via que se vai traçando pareça(m) concordar com a disposição que Peirce atribui à sua abdução. Uma reflexão interessante e a continuar.